Mais um 8 de março chega e neste período brotam posts e publicações sobre o Dia Internacional da Mulher. São inúmeros conteúdos glorificando ELAS! Mas nós mulheres, cis e (principalmente) trans, sabemos que o mercado de trabalho ainda está contra a gente. Antes que você me diga que eu estou exagerando, que são apenas coisas da minha cabeça, resolvi fazer um levantamento do mercado de trabalho pelo recorte de gênero (mas também por raça/etnia, idade e outros pontos).

Recentemente, choveu no Linkendin o recorte feito pela a Layoffs Brasil O movimento de profissionais de tecnologia para recolocação no mercado anunciou um dado alarmante: das pessoas que sofrem com demissões em massa, 69% são mulheres. O levantamento analisou 2.352 profissionais impactados. Se as mulheres na área de tecnologia já são minorias e elas são as mais afetadas com a onda de demissões, podemos concluir que o mercado está ainda pior para ELAS. A partir de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE), o índice de mulheres desempregadas em 2021 era de 16,45%, o equivalente a mais de 7,5 milhões de mulheres. O índice médio anual de desemprego na economia foi de 13,20% em 2021, de acordo com o levantamento, deixando as mulheres acima da média nacional.

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Outro ponto que afeta bastante o gênero feminino nas relações de trabalho é a idade. Mulheres mais velhas acabam sendo jogadas para escanteio em algumas áreas de atuação. Conhecido como Etarismo (preconceito por idade), o assunto vem sendo muito debatido agora que várias gerações têm se encontrado no mercado de trabalho ao mesmo tempo. 25% da população brasileira está com mais de 50 anos de idade, segundo dados do IBGE. No entanto, o aumento e envelhecimento da população não é acompanhado por oportunidades de carreiras. O selo GPTW Brasil mostrou que até nas melhores empresas para se trabalhar não há a inclusão etária ideal. Segundo levantamento das 150 empresas melhores avaliadas, apenas 3% tinham profissionais idosos em seu quadro de funcionários. E a cobrança com mulheres mais velhas é ainda pior…

Então mulheres jovens se dão melhor? Aí que nos enganamos. Mulheres que podem gestar e na durante toda sua vida fértil sofrem muitas vezes preconceitos em ambientes de trabalho que enxergam na gravidez como uma interrupção do trabalho. Existem companhias que evitam contratar mulheres recém casadas e coisas do tipo. Ah, então mulheres que já tem filhos se saem melhor? Não! Aquelas que possuem filhos ou filhas sofrem em ambientes pouco flexíveis e alguns lugares preferem contratar homens (com filhos, diga-se de passagem) pois eles não deixam o posto de trabalho para cuidar da criança. Mais de 11 milhões de famílias são chefiadas por mulheres no Brasil, de acordo com dados da DIEESE em 2022. Se fossem as famílias chefias por homens, eles sofreriam o mesmo tipo de problemas?

Segundo dados do IBGE de 2021, 54,6% das mães de 25 a 49 anos e que têm crianças pequenas de até três anos estão empregadas. Quase metade das mães de uma faixa etária estão fora do mercado, algumas por escolha, outras por falta de oportunidades profissionais. Claro que estamos falando de situações generalizadas, mas que sabemos que a situação ainda deixa a deseja, por isso, alguns países criaram leis específicas para a questão parental. Em 2021, o Senado brasileiro, por exemplo, aprovou uma medida provisória que flexibiliza a jornada de trabalho para mães (e pais) de crianças com até seis anos ou com deficiência (MP 1.116/2022).

As mulheres negras também possuem dificuldades específicas quando se faz um recorte de raça. Segundo site Geledés, a partir de fala da ativista negra Beatriz Nascimento: “a escravização estabeleceu o lugar da mulher negra na hierarquia social do país. A dinâmica do sistema econômico pós-abolição alimentou-se dessa hierarquia: por meio de mecanismos mais ou menos explícitos de discriminação, reservou-se à mulher negra papéis subordinados no mercado de trabalho”. Ainda sobre dados publicados no site, apresenta que mulheres negras somam cerca de 40 milhões e 600 mil pessoas, sendo que mais de 15 milhões e 500 mil estão fora da força de trabalho e cerca 4 milhões, não possuem ocupação – segundo informações PNADC 2019.

Se para mulheres cisgênero no mercado de trabalho já é difícil, o que dizer de mulheres transgeneros? Existe uma estimativa feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) de que aproximadamente 2% da população brasileira é composta por pessoas trans. Os dados são recortes, pois existe uma grande dificuldade de fazer levantamento dos dados, visto que o Censo Demográfico Brasileiro não contempla informações direcionadas à população LGBTQIA+. Para se ter uma ideia, 75% das pessoas trans entrevistadas não possuem formação técnica ou específica para a ocupação de determinados cargos no mercado de trabalho”, segundo “Mapeamento das Pessoas Trans” realizado no município de São Paulo. E 90% das mulheres trans e travestis se declararam como profissionais do sexo, acompanhantes ou garotas de programa.

Fazendo todas essas análises em um mesmo lugar, dá para perceber como os lugar das mulheres no mercado de trabalho ainda requer atenção e muita luta por igualdade. Eu compartilhei meu incômodo na Linkedin e algumas colegas deram seus depoimentos.

Minha esperança é que no próximo 8 de março, os dados sejam mais animadores que esses aqui!

Fontes:

IBGE

Participação de mulheres no mercado de trabalho é 20% inferior à dos homens

Etarismo: mercado para profissionais maduros

Mercado de trabalho ainda é rígido com mulheres que são mães

Boletim Especial 8 de março: Dia da Mulher

Desafios das mulheres negras no mercado de trabalho

ESPECIAL MULHERES – O complexo mercado de trabalho para mulheres trans e travestis

Mapeamento das pessoas trans no município de São Paulo