Sou formada em Publicidade, mas nunca me identifiquei com a área e, há mais de uma década, trabalho com conteúdo. Muito antes de esse trabalho ter essa nomenclatura (eu me definia como blogueira ou jornalista), fiz minha pós-graduação em Marketing Digital, porém é a criação e gestão de conteúdo que eu gosto. Amo essa área de atuação e, acredito, que faço isso muito bem. No entanto, tem algo que ando me questionando muito sobre esse mercado que é a relação tóxica do campo da comunicação digital.

Não basta ser bom profissional, responsável e dedicado, fazer suas entregas (antes do) no prazo. Você precisa estar conectado. Ligado. Respondendo milhares de e-mails e mensagens de Whatsapp – o tempo todo! Você precisa conhecer as redes sociais. Ter presença em todas elas. Responder as pessoas. Depois disso, deve sobrar, sei lá, umas duas horas do seu dia, pra questões pessoais.

Essa dinâmica de “ligado 24 horas” tem me incomodado. E percebo que outras pessoas da área também estão insatisfeitas. E eu tenho lido muito sobre isso, sobre relações trabalhistas nesse tipo de paradigma. E olha, não sou uma pessoa procrastinadora. Se eu pego algo, eu vou até o fim pra resolver e passar logo pra outra tarefa.

Precisamos rever nossa maneira de nos comunicar!

https://twitter.com/livola/status/1099669186379431936

“Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida”, a frase é atribuída ao pensador Confúcio e tem sido disseminada por diversos empreendedores, mentores e coaches. Por outro lado, um post no Twitter mostra que algumas vezes ocorre o oposto dessa afirmação: “Trabalhe com o que você ama e você vai trabalhar o dobro ou o triplo de uma pessoa normal porque você vai precisar de também trabalhar com o que você odeia porque o que você ama não paga suas contas”. Mas por que a nossa relação com o trabalho acaba sendo de amor ou ódio? De alguns anos para cá, as relações de trabalho têm sido estudadas com intensidade, desde como as pessoas se inserem ao mercado até como adoecem em suas vidas laborais.

Os jovens realmente amam seus trabalhos ou só fingem?

Uma recente matéria do New York Times (1) levanta questionamento sobre como os jovens estão “fingindo que amam seus trabalhos”. No artigo, um novo cenário é apresentado em que os a geração entra no mercado de trabalho e é cobrada a amar seu trabalho de maneira a cima do normal. O jornalista questiona: “Quando o vício no trabalho  performativo se tornou um estilo de vida?”. Apesar escritórios que oferecem serviços 24 horas para os empregados até água saborizada com frases motivacionais, a jornada de mais de 10 horas diárias tem sido questionada. Porém uma armadilha pode estar sendo armada, já que “a grande maioria das pessoas da ‘mania do trabalho-duro’ não são as pessoas que fazem o trabalho real. Eles são os gerentes, financistas e proprietários ”, segundo David Heinemeier Hansson (co-fundador da Basecamp), em entrevista ao NYT .

Segundo estudo da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), dois em cada três jovens brasileiros planejam empreender nos próximos anos. Dentre, as principais motivações são realização de um sonho (76,4%), qualidade de vida (75,6%), altos ganhos financeiros (70%), mercado promissor (66,1%) e não ter chefe (64,5%). (2)

De acordo com Lima e Pires (3), os “jovens nasceram e cresceram num mundo que é “liquefeito” (Bauman, 2001), ou melhor, onde relacionamentos de curta duração, o presente e o agora prevalecem. Assim, é de se esperar que os jovens sejam cada vez mais afastados de um ideal de segurança e estabilidade no emprego, um padrão de vida e trabalho que marcou as gerações anteriores e estão mais acostumados e adaptados a contratos flexíveis. No entanto, isso não é o que ocorre. Mesmo que eles consigam ver os aspectos positivos dos contratos flexíveis, eles buscam se apegar ao que (suposta) estabilidade ou segurança permanece no trabalho formal e não param de fazer planos de longo prazo”.

Mas qual é a saída para essa situação? De acordo com a Psicologia Positiva as pessoas lidam com o trabalho de três formas: como emprego, ou carreira, ou missão. “Nós vemos o nosso trabalho como um Emprego, uma Carreira ou uma Missão. As pessoas com um “emprego” veem o trabalho como um fardo e o salário como a recompensa. Em contrapartida, as pessoas que veem seu trabalho como uma carreira, trabalham não só por necessidade mas também para progredir e ter sucesso. Por fim, as pessoas com uma missão veem o trabalho como um fim por si só; seu trabalho é gratificante não devido a recompensas externas, mas porque elas sentem que contribuem para um bem maior, aplicando seus pontos fortes pessoais em um trabalho que lhes oferece um senso de propósito”, segundo Shawn Achor.

Seguindo essa máxima, como você enxerga sua relação com o trabalho? Pense como está sua relação que, em breve, teremos mais textos sobre o tema.

FONTES:

Why Are Young People Pretending to Love Work?

Dois em cada três jovens brasileiros planejam empreender nos próximos anos

Youth and the new culture of work: considerations drawn from digital work

Por que ‘trabalhe com o que você ama’ pode ser um péssimo conselho

Como voltar a amar o seu trabalho

Livro: O Jeito Harward de Ser Feliz (de Shawn Achor)

Dicas de livros sobre o tema: