Ok, o título parece aquelas postagens do Linkedin em que as pessoas agradecem por “fim de ciclos” após uma demissão. Talvez meu texto siga um pouco esse caminho, mas a intenção é apenas colocar para fora um insight que tive esses dias. Há alguns anos, um pouco antes da pandemia, fui demitida. Na época, eu não percebia, mas o emprego em questão me fazia mais mal do que bem. O fantasma de uma demissão era muito mais assustador para mim, do que um chefe abusivo (sem querer banalizar essa expressão), e eu achava que as coisas iam se acertar logo. Ledo engano!

Leia também: Assédio moral: como reconhecer e lidar com situações abusivas no trabalho

Eu trabalhava numa multinacional francesa na qual eu tinha sido uma das primeiras funcionárias da filial brasileira. Eu dei todo meu gás e criatividade para a empresa, tive um grande crescimento profissional, mas também sofri muitas injustiças. Percebi que empresa nenhuma, por mais que você se dedique, não deve nada a ninguém. Quando não precisam, podem te descartar sem maiores problemas. De uma hora para outra!

Agora voltando ao caso da demissão. Eu estava numa posição boa de chefia – apesar de ganhar bem menos do que um homem que exercia a mesma função que eu -, tinha responsabilidades e também era meu sonho de trabalho! Sim, sonho! Sonhava em trabalhar para essa marca, era consumidora dela. Até me deparar com uma chefia insegura, que perseguia e usava os pontos fracos dos colaboradores contra eles. Eu comecei a desenvolver uma ansiedade enorme, voltei para terapia com o único foco: trabalho, trabalho, trabalho. Estava há anos na iniciativa privada e trabalhava remotamente (antes das restrições da covid). Já morava em Brasília e não via mercado para mim aqui (apesar de tentar a todo custo mudar de emprego). Até o dia em que descobri, por uma fonte interna da empresa, que meu chefe estava tentando me demitir (sem nenhuma justificativa plausível, além do fato de eu ter denunciado os abusos dele ao RH da empresa). Eram tantos absurdos vindos dele, porém a empresa era/foi conivente com muitas questões horríveis.

Enfim, no dia antes das minhas férias (mesmo PJ, eu tinha férias), ele queria, porque queria, uma reunião depois do almoço. E eu já sabia o que vinha. Ele “me desligou” numa sexta-feira, no dia em que ia tirar duas semanas de descanso. Claro que as “férias” foram péssimas e, ainda bem, que não tinha nada planejado. Eu me senti totalmente desamparada pela empresa. E poucas semanas depois, ele foi afastado das funções (colocado em outra área), no entanto, teve esse aval da minha demissão. Fiquei triste, me senti injustiçada, puta, quis processar a empresa. Só que eu não sabia que minha vida e carreira estavam prestes a mudar (a gente nunca sabe de antemão).

Eu estava cursando minha pós-graduação em Gestão de Pessoas e já desenvolvendo a Mentoria Potencialize Sua Carreira. Algumas semanas após ser demitida, eu consegui um trabalho temporário no setor público, que se tornou um freela de médio prazo e que me abriu as portas para o que faço agora: consultoria em organizações internacionais. Eu nunca, em toda minha vida, tinha cogitado trabalhar no setor público, mas acabei aterrisando em um dos projetos mais interessantes e recompensadores da minha vida: o Programa Criança Feliz.

Sem renegar toda minha experiência passada, que me deu toda bagagem que tenho hoje em dia, mas ver resultados de um programa que atua diretamente com pessoas em situação de vulnerabilidade social muda nossa perspectiva. Se anos antes, eu fazia projetos para marcas milionárias e não via resultados concretos do meu trabalho, atualmente, eu tenho a oportunidade de conhecer pessoas que são atendidas pelo projeto e ouvir relatos dos impactos nas suas vidas. Muitas dessas visitas são emocionantes e me deparo com realidades bem tristes. Só que ao fim do dia, sei que tem muita gente boa ao meu lado, se empenhando para mudar a vida dessas pessoas. Percebi que pretendo continuar nessa função de consultora mais algum tempo (e também com as mentorias)…

Há uns cinco anos, não iria imaginar que aquela demissão que considerei super injusta, pudesse abrir uma nova fase na minha trajetória profissional!