A questão da discussão do processo de Coaching no Brasil se faz necessária, pois é um campo de atuação ainda não regulamentado no país.
Em Março de 2019, o Conselho Federal de Psicologia emitiu uma norma acerca da orientação aos psicólogos sobre a prática de Coaching. Quando se tratar de um coach com formação e registro no CRP: “é necessário ressaltar que ao exercer o coaching enquanto psicóloga(o), a(o) profissional está sujeita(o) à totalidade do Código de Ética (Res. CFP n. 010/2005), devendo respeitar seus princípios fundamentais, conhecer e cumprir com suas responsabilidades, garantindo que seu trabalho seja baseado no respeito, na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas”. Porém essa diretriz se aplica apenas aos profissionais da Psicologia quando atuando na área.
Segundo definição do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) a prática é “um processo definido como um mix de recursos que utiliza técnicas, ferramentas e conhecimentos de diversas ciências como a administração, gestão de pessoas, psicologia, neurociência, linguagem ericksoniana, recursos humanos, planejamento estratégico, entre outras. A metodologia visa a conquista de grandes e efetivos resultados em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”. De acordo com essa afirmação, é uma questão de cunho multidisciplinar e, por isso, cabe a outros profissionais o espaço para aplicá-las.
Enquanto de um lado os psicólogos brasileiros pedem algum tipo de regulamentação, para evitar que práticas exclusivas da Psicologia (como testes psicológicos) sejam aplicadas sem formação e permissão. Por outro lado, o número de pessoas se intitulando Coach cresce a cada dia. Dados do IBC mostram que a empresa já formou mais de 1 milhão de Coaches no Brasil e se destaca como uma centro de excelência com como Única certificada pela ISO 9001, com Metodologia patenteada e 5 credenciais internacionais em coaching.
O psicólogo Luiz Eduardo Valiengo Berni, ex-presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) do CRP-SP, 6ª Região, durante o Diálogo Digital sobre Coaching explicou que “o Coaching é uma prática profissional contemporânea, que surge em grande maioria dentro do mundo do trabalho, e é um campo de atuação profissional, mas é também um processo”.
O Coaching é um processo que tem no mínimo 3 etapas:
1 – Definição, entre o coach e o coachee, do foco que vai ser trabalhado;
2 – Definição de forças e fraquezas (entre outros pontos);
3 – Planejamento de ação para realizar aquilo que foi acordado entre as partes.
Dentro da Psicologia, o coaching se assemelha a um processo de orientação não diretivo, centrado no cliente. Porém, é um campo de atuação multiprofissional. Não é um campo exclusivo da Psicologia, mas que para uma boa atuação, ele exige estudo, formação, um processo de supervisão e a pessoa que está aplicando deve ter experienciado como coachee antes da atuação como coach.
Coach Psicólogo x Coach Não Psicólogo
Para Luiz Eduardo Valiengo Berni, durante a conversa sobre o tema, o mesmo afirma que o diferencial entre aplicação de um processo de coaching por Psicólogos e Não Psicólogos se dá no momento da etapa de Definição das Forças e Fraquezas do cliente. O Psicólogo, por conta da sua formação, terá a mão diversas ferramentas próprias do campo da Psicologia.
Por exemplo, alguns testes são de uso exclusivo dos psicólogos e não podem, de maneira alguma, serem aplicados por profissionais de Coaching que não possuem formação de Psicologia, nem registro no CRP de seu estado.
“O Coach quando aplica métodos e técnicas exclusivas da Psicologia, aí sim, ele está, em um exercício irregular da profissão”, segundo Aluízio Brito, integrante da Secretaria de Orientação e Ética (SOE) e ex-conselheiro do CFP.
Sendo assim, as duas áreas de atuação podem se cruzar, quando o Coach tiver formação em Psicologia. Caso contrário, o profissional não pode utilizar de técnicas psicológicas. Por outro lado, o Psicólogo, quando atuando no campo do Coaching, deve seguir as regras do Conselho de Ética e da Profissão, o CRP.