Há algumas semanas, escrevi sobre um termo que estava aparecendo em muitos posts, reportagens e artigos pela internet: quite quitting. Agora que a tendência aterrissou de vez no Brasil, ela ganhou uma tradução: demissão silenciosa. Mas, diferente da expressão, o comportamento por trás dela não significa pedir as contas do seu emprego atual de maneira quieta. O termo demissão silenciosa diz sobre a atitude de fazer apenas as tarefas esperadas do seu dia a dia de trabalho, sem executar o “mais” que não está sendo remunerado.
No Google Trends, o termo “demissão silenciosa” começou a se destacar no Brasil:
No texto “Quiet quitting”? Quando você faz apenas o esperado do seu trabalho, escrevi um pouco sobre as origens da expressão e sua disseminação nas redes sociais (mais precisamente no TikTok). Agora, quero levantar algumas hipóteses sobre esse comportamento predominante na geração Z. Pandemia, exploração de funcionários, jovens entrando no mercado de trabalho… Esses são alguns dos pontos que foram associados a tal Demissão Silenciosa.
Michel Alcoforado, na rádio CBN, explica também que: “Depois da pandemia, os trabalhadores de alguma forma decidiram criar uma barreira fundamental entre aquilo que era vida profissional e que era vida pessoal. Qualquer possibilidade de invasão do trabalho dentro da sua vida pessoal, é desestimulada. Ao invés de pedirem demissão fica só fazendo aquilo que eles foram contratados.”
Burnout x Demissão Silenciosa
Para alguns, pode-se classificar o “quiet quitting” como o oposto de vestir a camisa. Se alguns funcionários se dedicam muito mais do que o esperado, fazem horas extras, entram com expediente nos finais de semana, e estão sempre conectados com o trabalho, por outro lado, temos uma leva de pessoas que só querem fazer o seu e ir para casa. A princípio a Demissão Silenciosa seria uma resposta para a cultura de workaholic que é bem vista nos Estados Unidos.
Segundo reportagem do site Canaltech, “Essa mudança de cultura — em especial nos Estados Unidos — em relação aos famosos “viciados em trabalho” (workaholics), deve-se, principalmente, ao aumento dos casos de burnout durante a pandemia de covid-19. Com o home office, funcionários acumularam funções e as fronteiras entre descanso e trabalho foram desfeitas.”
Alguns especialistas em relações e mercado de trabalho têm associado a demissão silenciosa como uma resposta ao burnout. Ao se criar limites mais rígidos entre o trabalho e a vida pessoal, os profissionais deixam o crachá guardado até a hora do próximo expediente. Nada de ligações e mensagens fora de hora (a chefia pode até mandar, mas eles não vão responder). Nada de gastar os finais de semana para finalizar um relatório ou revisar uma apresentação. Sábados e domingos se tornam dias de descanso.
De acordo com matéria da BBC, “pesquisa realizada com 2.017 trabalhadores do Reino Unido pelo site de avaliação de empregadores Glassdoor, em 2021, descobriu que mais da metade dos entrevistados achava que faltava equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal”. Por isso, forçar um equilíbrio possa ser uma resposta dos próprios colaboradores em relação as empresas as quais eles fazem parte.
Em relação a Demissão Silenciosa, ainda não existem muitos dados ou pesquisas sobre o assunto, mas como tendência crescente, impulsionada pelas redes sociais, é importante ficar antenado para saber como esse tipo de comportamento vai evoluir.
É algo geracional?
De acordo com artigo do The Wall Street Journal, uma “pesquisa sobre o local de trabalho e bem-estar da Gallup, disse que as descrições dos trabalhadores de ‘demissão silenciosa’ se alinham com um grande grupo de entrevistados que [se] classifica como ‘não engajados’ – aqueles que aparecerão para trabalhar e fazer o mínimo exigido, mas não muito mais. Mais da metade dos trabalhadores pesquisados pela Gallup, nasceram depois de 1989 (54%) se enquadram nessa categoria.”
Os baby boomers (geração nascida entre 1945 e 1960) foram “educados numa época em que se dividia claramente a vida pessoal e profissional e que o prazer estava reservado para as anos pós-labuta”, segundo artigo da revista HSM Management. Quando se analisa “os integrantes da geração X [nascidos entre 1960 e o final dos anos 1970], apresentam conhecimento mais aprofundado sobre os temas e se dedicam bastante ao trabalho. Já a geração seguinte a ela é conhecida por seu perfil questionador, inovador, imediatista e um tanto rebelde. Os millennials, ou simplesmente Y, são mais irreverentes, mas nem por isso deixam de ter comprometimento com o sucesso profissional”, segundo artigo da Catho Online.
Daí chegamos na geração Z, que após duas gerações anteriores com foco no crescimento profissional, busca mais equilíbrio e prazer fora do escritório. “As pessoas dessa geração pensam rápido, são agitadas e podem apresentar dificuldades de lidar com a hierarquia verticalizada, cumprimento de horário fixo ou rotina maçante de apenas um tipo de trabalho”, segundo texto da Gupy. Apesar de super conectados a internet, esses profissionais não gostam de se sentirem presos. Eles buscam flexibilidade para executar suas tarefas e também apreciam bastante os horários de lazer. Eles odeiam se sentirem presos ou obrigados a realizarem algo com estrutura rígida. Essa geração busca ambientes de trabalho com mais liberdade, como startups, empregos home office ou cargos freelancers.
Como o mercado está reagindo a demissão silenciosa?
“Assim como a ‘Grande Demissão’ começou como uma frase (cunhada pelo professor Anthony Klotz), o quiet quitting tem o poder de catalisar algumas importantes reavaliações sobre trabalho e carreira”, segundo artigo da Forbes Brasil. Depois que o termo começou a se popularizar nas redes sociais, alguns gestores e especialistas decidiram encarar a questão de maneira mais analítica. De acordo com Nilufar Ahmed, para o site da BBC, “em vez de ficarem nervosos com a perda de produtividade, os empregadores devem aproveitar este movimento de demissão silenciosa para apoiar o bem-estar de seus funcionários”.
Uma maneira das empresas responderem a esse tipo de comportamento é fortalecer a área de gestão de pessoas. Criar um ambiente empresarial que permita uma clara separação entre o pessoal e o profissional, evitando que os funcionários adotem o quiet quitting dentro do trabalho.
Fontes:
https://www.revistahsm.com.br/post/chamem-os-baby-boomers
https://www.gupy.io/blog/geracao-z-mercado-de-trabalho
https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/385967/demissao-silenciosa-e-o-futuro-do-trabalho.htm
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62634185
Demissão silenciosa: entenda a tendência lançada pela geração Z