Com a pandemia de COVID-19, o trabalho remoto tornou-se uma realidade para muitos trabalhadores em todo o mundo. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre) publicada em dezembro de 2022, o trabalho remoto atingiu um pico de 10,4% no formato de emprego durante a pandemia. No entanto, com a disseminação das vacinas e o relaxamento das restrições, muitas empresas estão começando a chamar seus funcionários de volta ao escritório. Enquanto isso pode parecer um retorno à normalidade, também pode significar um retorno aos deslocamentos nas cidades e um possível impacto negativo na saúde mental dos trabalhadores.

De acordo com um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), embora o trabalho remoto não seja uma realidade para todos os tipos de negócios e profissionais, as ocupações com potencial para serem executadas remotamente correspondiam a 24,1% da força de trabalho. No entanto, essas ocupações eram responsáveis por 40,4% da massa total de rendimentos, que é a soma de todos os rendimentos recebidos pelas pessoas empregadas.

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Mobilidade urbana e trabalho presencial

Além de ser visto como um benefício para o trabalho, o trabalho remoto pode ter impactos significativos no funcionamento das cidades. O retorno aos deslocamentos urbanos pode ser estressante e caro, não só para as pessoas, como também para o poder público. Segundo a Pesquisa Mobilidade Urbana 2022, realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e pelo Serviço de Proteção ao Crédito em parceria com o Sebrae, os moradores das grandes cidades do Brasil passam em média 21 dias por ano no trânsito. Os entrevistados revelaram que 28% deles gastam de 30 minutos a 1 hora por dia no trânsito, enquanto 32% gastam de 1 a 2 horas diárias para se deslocar para lugares como trabalho, escola, faculdade ou compras.

O trânsito congestionado, os atrasos nos transportes públicos e o tempo gasto em viagens diárias podem afetar a qualidade de vida dos trabalhadores. Além disso, os custos adicionais de transporte e estacionamento podem prejudicar o orçamento pessoal, que pode levar a um aumento do estresse e da ansiedade, além de uma diminuição da produtividade e do bem-estar no trabalho. Por isso, o trabalho remoto ofereceu aos trabalhadores a flexibilidade de gerenciar sua rotina diária e familiar.

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Os trabalhadores que puderam trabalhar em horários mais convenientes para eles, evitando o estresse de ter que conciliar as responsabilidades profissionais e familiares. Com isso, o retorno ao escritório pode significar a perda dessa flexibilidade, o que pode aumentar a pressão sobre os trabalhadores e afetar sua saúde mental. Se por um lado, os trabalhadores querem mais equilíbrio em suas jornadas, por outro, algumas pesquisas apontam que “os trabalhadores remotos trabalham por mais tempo e que até 80% dos profissionais britânicos sentem que trabalhar de casa prejudica sua saúde mental”.

Modelo de trabalho híbrido

Para lidar com esses desafios, as empresas podem considerar uma abordagem híbrida para o expediente dos seus funcionários, que permita que as pessoas trabalhem remotamente em dias alternados. Isso reduziria o número de deslocamentos diários, ajudando a diminuir o estresse e os custos associados, bem como, oferece momentos presenciais entre o trabalhador e a cultura da empresa. Além disso, a flexibilidade oferecida pelo trabalho remoto pode ser mantida, o que pode melhorar o bem-estar dos trabalhadores.

Outra abordagem seria a oferta de apoio para a saúde mental dos trabalhadores, incluindo programas de bem-estar, coaching e aconselhamento. Isso ajudaria os trabalhadores a gerenciar o estresse e a ansiedade associados aos deslocamentos diários e à pressão de equilibrar responsabilidades profissionais e familiares. Embora o Brasil tenha enfrentado uma crise econômica nos últimos dois anos, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou cerca de 6,5 milhões de pedidos de demissão de trabalhadores com carteira assinada entre julho de 2021 e julho de 2022. Segundo a pesquisa, uma das razões para essa elevada taxa de demissões é que esses funcionários não viam mais o trabalho como o elemento central de suas vidas.

Em resumo, enquanto o retorno ao escritório pode parecer uma volta à normalidade, pode ter um impacto significativo na saúde mental e na qualidade de vida dos trabalhadores. As empresas podem considerar abordagens híbridas para o trabalho e fornecer apoio para a saúde mental dos trabalhadores a fim de garantir que eles possam gerenciar o estresse e o impacto dos deslocamentos diários.

Fontes:
Rendimento de trabalho em home office sobe 53% desde o início da pandemia – e ganha do presencial
Brasileiro perde o equivalente a 21 dias no trânsito, diz pesquisa
Os possíveis prejuízos do trabalho remoto à saúde
Um olhar para dentro: como manter a saúde mental no trabalho, seja presencial ou não