O que parece simples pode ser uma pouco mais complicado

Eu sou fiel adepta do trabalho remoto bem antes da pandemia assolar o mundo. Há alguns meses, me tornei 100% freelancer e isso tem feito muito bem para mim. Só que essa não é a realidade para todo mundo! Agora, quase seis meses após a OMS decretar pandemia do Coronavírus, surgiram muitos resultados de estudo sobre teletrabalho. Um desses é o report EMERGING FUTURES OF REMOTE WORK feito pelo Institute for the Future. No relatório podemos entender como a tecnologia ajuda no trabalho a distância (com uso de diversas tecnologias), mas também apresenta quais são as limitações dos humanos com esse distanciamento. 

ZOOM FATIGUE

Algumas empresas tiveram seus negócios abalados durante a pandemia. Já outras corporação foram catapultadas pelo isolamento, por exemplo o Zoom viu um aumento de 10 milhões de usuários (em dezembro de 2019) para 300 milhões, em abril de 2020. Apesar de uma necessidade urgente, esse aumento se deu de maneira descontrolada e com pessoas sendo empurradas para essas novas ferramentas sem treinamento, nem limite de uso e no meio de uma crise de saúde. A partir disso, alguns problemas de saúde mental começaram a surgir como o Zoom Fatigue (ou Fadiga do Zoom, em tradução livre). 

De acordo com o relatório, “trabalhar remotamente significa mais tempo em ferramentas de videoconferência e o risco da ‘fadiga do zoom’ aumenta, isso porque nos movemos menos, não conseguimos ler a linguagem corporal com facilidade e precisamos sempre olhar para uma tela com cabeças falantes (incluindo um reflexo de nós mesmos). Assim, há muitas coisas que nos distraem das conversas e nos deixam cansados ​​e desligados”. Ainda segundo o estudo, no futuro vamos desenvolver novas pesquisas para entender como fazer o trabalho remoto e de maneira mais otimizada e diminuir distrações e cansaço.

OLHO NO OLHO

Segundo o EMERGING FUTURES OF REMOTE WORK, a Dra. Thalia Wheatly afirma que “o contato visual é um componente-chave para uma comunicação bem-sucedida”. A pesquisadora ainda pontua que com a tecnologia atual nós não olhamos para câmera durante uma videochamada, mas para tela, para o rosto da pessoa que tá falando, assim as pessoas realmente não se olham nos olhos ao conversar.

Algumas empresas já perceberam esse problema da questão: olhar para câmera X olhar para tela. Em 2019, a Apple testou uma função no FaceTime, que quando habilitada, ajuda a corrigir os olhos das pessoas conversando por vídeo. Sendo assim, ao conversar com outra pessoa via video parece que você está olhando para a câmera quando você está olhando para a tela. Pois quando você olha para a câmera, você não está vendo a pessoa que está no vídeo, e quando você olha para a pessoa, seu olhar fica para baixo.

SOZINHO, E AGORA?

Outra questão levantada pelo estudo é a solidão que as pessoas que trabalham sozinhas sentem. Segundo levantamento feito pela empresa Buffer e apresentado pelo report, 1 em cada 5 trabalhadores remotos listaram solidão e sentimento de desconexão como um dos maiores desafios ao trabalhar remoto. O cafezinho e o almoço de trabalho se tornaram momentos de muita nostalgia para as pessoas que trabalham em suas casas e são experiências difíceis de replicar. Com isso, a empresa Lunchclub.ai oferece serviço de conectar pessoas com desconhecidos em almoços virtuais e conversas informais. Durante a pandemia, a plataforma chegou a ter cerca de 20 mil pessoas em sua lista de espera.

NEM TUDO É RUIM

Apesar de alguns pontos negativos, muita gente ainda prefere o trabalho remoto a mesma função presencial. Uma pesquisa da Gallup (empresa de pesquisa de opinião) aponta que de 3 em cada 5 funcionários, que estão trabalhando remotamente devido à pandemia, gostariam de continuar nesse modelo.  Outro ponto levantado pelo relatório é que as pessoas com deficiência muitas vezes enfrentam dificuldades para encontrar empregos. Com criação de novas políticas de trabalho em casa, muita gente pode buscar oportunidades que anteriormente não estariam disponíveis.

Apesar do estudo do Institute for the Future não mostrar, outros dados apontam que trabalho remoto geram menos custos e usos de recursos para empresas. De acordo com Ministério do Trabalho, houve uma queda de 67,5% nos gastos com deslocamentos e viagens a serviço (comparando o período abril a junho 2019 e o mesmo período em 2020). Além disso, gastos com energia elétrica e água também foram afetados nos prédios públicos durante a pandemia. O Governo do Distrito Federal economizou cerca de R$ 36 milhões com teletrabalho.

Ainda existe o fator deslocamento casa-trabalho, que tem taxas bem altas nas principais capitais no Brasil. As duas maiores cidades brasileiras São Paulo e Rio de Janeiro possuem tempo de 46,5 minutos e 47 minutos entre sair de casa e chegar no trabalho, segundo estudo de do IPEA de 2012. Muita gente fica bastante tempo dentro de transportes públicos lotados na ida e volta do emprego.

Com isso, temos que colocar na balança os prós e contras de cada tipo de trabalho, antes de adotar um formato de trabalho, remoto ou presencial, em cada tipo de negócio.